Esta é uma das perguntas mais traiçoeiras que se pode fazer a um professor de Inglês, mas perguntas traiçoeiras podem dar origem a respostas ainda mais traiçoeiras.
É assim que, mais uma vez, nos encontramos no meio de uma chuva de números e estatísticas que estão longe de serem consensuais. Há quem fale em anos, há quem fale em meses, outros falam em semanas, dias ou… horas. Há quem indique o tempo como duração e outros como carga horária. E no meio disso tudo há ainda os que vendem milagres.
Antes de colocarmos um número padrão em algo tão subjectivo como é a aprendizagem, vale a pena reflectir sobre algumas questões de base que afectam a experiência de cada um e a sua.
O que é que considera como “aprender Inglês”?
Uma língua é um universo complexo composto por diferentes competências, mas frequentemente limitamo-las às competências linguísticas. E apesar de ser muito mais do que isso, quando o tema é Inglês falamos geralmente de reading, writing, listening e speaking. Então o que é para nós aprender Inglês? é dominar todas essas competências? é dominar apenas algumas? é dominar alguma em particular?
Muitas pessoas consideram que irão ter aprendido quando conseguirem entender com facilidade o que ouvem ou leem, outras consideram que só terão aprendido quando forem capazes de escrever ou falar fluentemente. Uma grande parte dos aprendentes ambiciona “atingir a fluência”, mas até isso pode ser subjectivo: onde é que começa a fluência?
Experiência imersiva vs não imersiva
É fácil perceber – e se calhar é até um bocado óbvio – que aprender uma Língua num contexto onde apenas se utilize essa Língua seja mais rápido do que num contexto em que isso não aconteça. Se o contexto for real, em vez de simulado, melhor ainda.
Essa é a premissa na base das experiências de imersão.
Mas por mais tentador que seja fazermos disso uma regra, nem sempre é assim tão linear. Para além do contexto, existem muitos outros factores a influenciar a aprendizagem, nomeadamente questões ligadas à própria pessoa, como o nível inicial e a motivação.
Seria lógico pensar que um lusófono que emigre para o Reino Unido rapidamente passe a dominar a Língua Inglesa, uma vez que é “atirado aos leões” e tem que se “desenrascar”. Mas a verdade é que há muitos emigrantes que lá vivem há anos e não falam a Língua. É comum pessoas nessas situações manterem-se na sua zona de conforto, refugiando-se (muitas vezes inconscientemente) em empregos e grupos de amigos que utilizem a sua língua-mãe. E isso é uma falsa imersão, portanto o próprio tempo de aprendizagem fica enviesado.
Existe transferência da aprendizagem?
A aprendizagem segue um conjunto de fases mas na maior parte das experiências de ensino da Língua Inglesa ficamo-nos pelas 2 primeiras – aquisição e retenção. Aprender implica também e principalmente ser capaz de generalizar o que foi adquirido para o aplicar em novas situações.
Quer seja em contexto de imersão ou não, a transferência é fundamental para que se considere que houve aprendizagem, sendo um indicador mais fiável sobre a duração.
Toda a gente quer aprender rápido, mas até o rápido é relativo e nem sempre é sinónimo de bem. É importante conhecer e respeitar os nossos próprios ritmos de aprendizagem e evitar comparações constantes com os outros, que são necessariamente diferentes de nós.
Acima de tudo, lembre-se que os números prometidos (ex. Aprenda Inglês em 15 dias) são também – cada vez mais – uma questão de Marketing e reflectem a estratégia de comunicação escolhida pela marca. Ou seja, às vezes são apenas diferentes formas de dizer a mesma coisa.